Relatos da professora Guida

A primeira parte da promessa consegui cumprir sem qualquer dificuldade e com enorme prazer, mas quanto à segunda, temo não poder manter a minha palavra. Afinal isto vai durar muito mais do que esperava.

O início da mudança

Desde segunda-feira, 9 de março, que tínhamos reforçado o nosso plano de contingência do Corona vírus. As medidas de proteção eram uma constante no Colégio, não só entre os adultos, como nas crianças, que colaboraram desde o início com agrado e exemplarmente.
Eis que na quinta-feira, 12 de março, o nosso Presidente da República, comunica que todas as escolas irão encerrar, devido à pandemia do Covid 19.

Na sexta, ao chegar ao Colégio, senti o meu coração bater fortemente, quase parecia uma taquicardia. Presumo que isto era um pressentimento que algo fora do comum se avizinhava.

Ao olhar para a minha sala, reparei que cerca de 40 % dos alunos estavam ausentes. Os que lá se encontravam, mostravam-se animados e muito felizes por estarem ali, por outro lado estavam tristes, porque sabiam que aquele seria o último dia do 2º período. Passei-lhes a mensagem de que iríamos viver uma experiência única, da qual deveríamos não só tentar aceitar a parte negativa, mas sobretudo tirar partido das coisas boas.

Despedimo-nos com a promessa de que estaríamos em contacto diário e manteríamos alguns dos nossos hábitos de trabalho, ainda que fosse à distância. Prometi ainda que, muito em breve, estaríamos juntos.

O DESAFIO

Confesso que nunca tinha contactado com o ensino à distância. A princípio debati-me com alguma ansiedade, com receio de não conseguir corresponder às expetativas dos meus alunos, mas ao perceber a compreensão e a colaboração por parte deles, fiquei mais forte.

Debato-me muitas vezes, ao fim do dia, com a ausência dos seus sorrisos, das expressões quando tinham dúvidas, ou mesmo quando se aborreciam uns com os outros. Toda esta dinâmica animava o meu dia e era como se fosse o meu oxigénio, revigorava-me. Aqueles momentos na sala de aula em que havia interrupções e eu franzia a testa, em desagrado, ou quando alguém precisava de ajuda e todos se dispunham a ajudar, deixa um espaço vazio na minha vida, deixa memóriasqude situações que não sei se voltarei a ver, pelo menos com este grupo, os meus finalistas.

Conforta-me saber que os meus alunos são muito companheiros e compinchas. Têm mantido o contacto entre eles e comigo, colmatando assim algumas das saudades.

«Ser professor é ter a certeza de que tudo terá valido a pena, se o aluno se sentir feliz pelo que aprendeu com o professor e por aquilo que ele ensinou ao professor.»

 

Guida Bicho, professora sala 4º ano

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